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16 de jul. de 2012

TÚNEL DO TEMPO - Os 30 anos de uma das maiores tragédias da história do futebol brasileiro


Na opinião de muitos, o dia 5 de julho marca o aniversário de uma das maiores tragédias do futebol brasileiro. Foi nesse dia que a Seleção Brasileira (uma das mais brilhantes já formada na história do escrete canarinho) foi derrotada pela forte Itália de Paolo Rossi, Claudio Gentile, Gaetano Scirea por três a dois e deu adeus à Copa do Mundo de 1982, na Espanha. E dentre todas as teorias elaboradas sobre os motivos da eliminação, só uma faz sentido depois de tanto tempo: por mais que Zico, Sócrates e Falcão tentassem, aquele dia não era o dia do Brasil.

Seleção Brasileira em 1982. Em pé: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Falcão, Luizinho e Júnior. Agachados: Nocaut Jack (massagista), Sócrates, Toninho Cerezo, Serginho, Zico e Éder.

Aquele Brasil X Itália foi uma das partidas mais emocionantes da história das Copas do Mundo. Sem exagero nenhum. Alguns chegaram a dizer que, com aquela derrota do futebol bonito da Seleção Brasileira, o estilo mais defensivo de jogo imperou pelos gramados mundo à fora nos anos seguintes. De um jeito ou de outro, aquele esquadrão montado por Telê Santana acabaria entrando para  seleto grupo de grandes seleções que não conseguiram conquistar um Mundial, como a Hungria de Puskas, em 1954, o Portugal de Eusébio, em 1966, e a Holanda de Cruijff, em 1974.

Depois de ter sofrido um bocado na sua estréia na Copa do Mundo de 1982 (com uma vitória em cima da União Soviética por dois a um), a Seleção Brasileira fez jus ao status de favorita ao título com boas vitórias em cima da Escócia (4 a 1) e da Nova Zelândia (4 a 0). Com o primeiro lugar no grupo F, o Brasil superou a Argentina por categóricos 3 a 1 com uma senhor atuação coletiva. Bastava um empate contra a Itália, que só conseguiu se classificar para a segunda fase com três empates e uma vitória em cima dos argentinos por dois a um. Muita gente já considerava barbada...

A verdade é que dentro de campo as coisas não funcionaram como a grande maioria dos torcedores e da mídia esportiva esperavam. A Itália imprimia uma forte marcação com Gentile grudado em Zico, Antognoni e Tardelli vigiando Sócrates e Falcão de perto, e o artilheiro Paolo Rossi enfiado entre os zagueiros brasileiros. Logo aos 5 minutos do primeiro tempo, Cabrini escapou pela esquerda e cruzou na cabeça do camisa 20 da Azzurra que só desviou para as redes. Sete minutos depois, veio a resposta brasileira: Zico viu Sócrates livre e deu-lhe a bola. Era o gol de empate.

Aos 25 minutos do primeiro tempo, em bobeira de Toninho Cerezo (que errou um passe incrível na saída de bola) e Luizinho (que havia abandonado a defesa para se lançar ao ataque como um volante), Paolo Rossi aproveitou e fez o segundo da Squadra Azzurra. A sólida atuação tática dos italianos e a desorganização brasileira (que só cnseguia criar na base dos lampejos de Sócrates e sofria com um Zico completamente apagado) foi a tônica do primeiro tempo.

Na volta do intervalo, a Seleção Brasileira tratou de se lançar ao ataque, mas esbarrava no próprio nervosismo e na grande atuação do já veterano goleiro Dino Zoff. Mas, aos 23 minutos da etapa derradeira, Falcão aproveitou o espaço que tinha e mandou uma bomba no ângulo direito do arqueiro italiano. A vibração do Rei de Roma no gol de empate (que ficou eternizada na história) e a festa brasileira no Sarriá dava a impressão de que a classificação estava garantida. Mas era só impressão...

Em cobrança de escanteio, aos 29 minutos do segundo tempo, o bom ponta Bruno Conti mandou a bola para área, Oscar cortou mal, Tardelli chutou prensado com Luizinho e a bola sobrou para Paolo Rossi (sempre ele) fazer o terceiro gol italiano diante dos brasileiros atônitos e das reclamações de Júnior, que pedia impedimento do camisa 20 sem perceber que ele mesmo dava condições de jogo ao atacante. O que se viu daí para o fim do jogo foi uma pressão incrível do escrete canarinho que, na busca desesperada pelo gol do empate (e da classificação), abria muitos espaços na sua defesa.

Já nos minutos finais aconteceu um dos lances mais incríveis da história das Copas. O ponta Éder cobrou falta sofrida na meia-esquerda e o zagueiro Oscar cabeceou sozinho, com força e precisão no canto esquerdo. Quando até o locutor preparava a voz para soltar o grito de "gol", Dino Zoff operou um milagre, primeiro por defender o "tiro" do zagueiro brasileiro e depois por não dar rebote a Sócrates, Zico e ao próprio Oscar, que tentaram enganar o árbitro israelense Abraham Klein alegando que a bola havia ultrapassado a linha fatal.

No fim das contas, a vitória por três a dois premiava a superação da Itália (que seria a campeã daquele Mundial) e castigava uma das gerações mais brilhantes da história do futebol brasileiro. Abaixo, você confere um vídeo com os melhores momentos da partida narrados por Luciano do Valle, na época, locutor da TV Globo. E olha, meu amigo... É difícil assistir e não se perguntar o que teria acontecido naquele 5 de julho... =/



FICHA TÉCNICA

BRASIL 2 X 3 ITÁLIA
DATA: 5 de julho de 1982
COMPETIÇÃO: Copa do Mundo de 1982
LOCAL: Estádio Sarriá (Barcelona, Espanha)
ÁRBITRO: Abraham Klein (Israel)
CARTÕES AMARELOS: Claudio Gentile e Gabriele Oriali (ITA)
GOLS: Paolo Rossi, aos 5', Sócrates, aos 12', e Paolo Rossi, aos 25' do primeiro tempo; Falcão, aos 23', e Paolo Rossi, aos 29' do segundo tempo.

BRASIL: Valdir Peres (São Paulo); Leandro (Flamengo), Oscar (São Paulo), Luizinho (Atlético-MG) e Júnior (Flamengo); Toninho Cerezo (Atlético-MG), Falcão (Roma-ITA), Sócrates (Corinthians) e Zico (Flamengo); Serginho (São Paulo) depois Paulo Isidoro (Grêmio) e Éder (Atlético-MG).
TÉCNICO: Telê Santana.

ITÁLIA: Dino Zoff; Claudio Gentile, Fulvio Collovati (Giuseppe Bergomi), Gaetano Scirea e Antonio Cabrini; Gabriele Oriali, Marco Tardelli (Giampiero Marini) e Giancarlo Antognoni; Bruno Conti, Paolo Rossi e Francesco Graziani.
TÉCNICO: Enzo Bearzot.

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Curiosamente, dias antes do início da Copa do Mundo de 1982, Zezé Moreira (treinador da Seleção Brasileira no Mundial de 1954 e olheiro de Telê Santana na Espanha) foi chamado de "gagá" por um certo comentarista de televisão quando afirmou o seguinte: "O técnico Bearzot armou um time sólido, aplicado, competitivo e que ocupa todos os espaços do campo. A Itália será um grande adversário." Depois daquele 5 de julho, o mundo inteiro veria que Zezé Moreira de "gagá" não tinha absolutamente nada...

FONTES DE PESQUISA
RSSSF Internacional
Site oficial da CBF
Site Oficial da FIFA - Copa do Mundo de 1982
Olho Tático - A tragédia do Sarriá