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29 de mai. de 2012

Xuxa e o depoimento infeliz





Pessoas que se contradizem o tempo todo. Você deve conhecer uma! Todo mundo conhece. Ela diz que é ateu, cética e agnóstica mas basta você pegar o jornal na mão, para ouvir a pergunta da sua boca: “O que está dizendo o meu horoscopo hoje?”
Quando assisti aquele depoimento da Xuxa não pude pensar em outra coisa: Meneghel é uma dessas pessoas! Eu sou suspeito em falar da Xuxa. Sempre achei essa gaúcha uma farsa. Subiu na carreira se relacionando com famosos, ganhou o título de “rainha dos baixinhos” mesmo detestando fazer programas para crianças e continua na TV por causa da teimosia da Globo em insistir com apresentadores decadentes … talento que é bom, isso ela nunca demonstrou, nem como apresentadora, nem como atriz, nem como cantora, nem como entrevistadora.
A principio pensei que era o único a pensar dessa maneira. Mas não demorei em perceber que toda Internet estava pensando assim. Quer exemplos? Vamos a eles, começando pela principal questão levantada: “Amor, Estranho amor” e o texto que rodou o Facebook de Julinho Esteves:
“Zapeando ontem a noite pelos canais de televisão abertos e fechados, inevitavelmente me deparei com a Xuxa, em entrevista exclusiva e melodramática concedida para o Fantástico, da Rede Globo. Me perdoem os fãs da “rainha dos baixinhos”, mas nunca consegui acreditar numa palavra sequer proferida por essa moça desde o início de sua carreira na televisão e na vida artística. Ontem, Xuxa extrapolou e potencializou a minha desconfiança plena sobre o seu caráter.
Primeiramente, Xuxa comentou sobre os seus amores, coincidentemente Pelé, o atleta do século e o rei do futebol, e Ayrton Senna, ícone da fórmula 1 e um dos maiores ídolos mundiais do esporte. Justamente as duas maiores celebridades brasileiras aos olhos do resto do mundo. Pode ser excesso de maldade minha, mas não creio nesse exagero coincidente. Para incrementar o seu cartel romântico, Xuxa utilizou até o falecido pop-star mundial Michael Jackson, dizendo ter sido convidada a casar com ele, mas escrupulosamente declinou. Michael não está mais aqui para confirmar, portanto me reservo o direito de não acreditar. Xuxa deliberadamente esqueceu de mencionar o ator Luciano Szafir, com quem inclusive teve uma filha, a Sasha. Talvez se Luciano tivesse se tornado o rei da televisão, ou falecido por morte dramática, Xuxa relembrasse desse “devotado” e inesquecível amor.
Porém, o ponto alto da entrevista, que certamente é motivo das mais variadas especulações e comentários mundo afora no transcorrer do dia de hoje, foi o fato de Xuxa “confessar” que foi abusada sexualmente até os treze anos de idade, ora pelo melhor “amigo” de seu pai, ora pelo futuro padrinho e marido de sua vó, ora por um professor. Dizia-se inocente para perceber o mal que lhe acometeram, assim como dizia que sua mãe era inocente para entender o drama, razão pela qual não confidenciara nem pedira socorro a sua genitora. Ora, se Xuxa tinha capacidade para julgar a mãe como inocente para entender tal fato grave, sinal que no mínimo não era tão “inocente” assim. Depois Xuxa disse que um exemplo de amor incondicional que conhecera era o que a própria mãe devotara a ela, mas, conflitantemente, Xuxa declarou que sua mãe ao dividir seus cuidados com cinco filhos, não percebera seus súbitos silêncios após as depravações a que era exposta. Não bate, simplesmente não bate.
Fato é que poucos anos após, já maior de idade, Xuxa deixou-se filmar no filme “Amor Estranho Amor”, onde realizou carícias de cunho sexual num menino de apenas “13 anos”. Como ela declarou na mencionada entrevista que desde os 16 anos de idade já era arrimo de família e sustentava a sua casa, será que ainda não sabia discernir o que era certo ou errado? Muito dinheiro Xuxa gastou para vedar a posterior exibição dessas imagens, mas é só buscar na Internet, que essas “antológicas” cenas são captadas e facilmente vizualizadas. No mínimo, totalmente incoerente.
Porém, o pior de tudo, é que nesse suposto “apelo coletivo” da Rede Globo junto a essa alma instável, Xuxa prestou um enorme “desserviço” à luta contra a violência sexual em crianças, posto que como “ídola” que é, torna-se exemplo para milhões de menores que podem deduzir que o silêncio seja o melhor caminho em casos de sedução de menores, estupros, assédios e pedofilias.
Xuxa, na televisão, ávida por índices, contratos, cachês, sucessos, marcas, recordes, vendas, verbas e patrocinadores, foi a grande precursora do funk erótico nas crianças. Xuxa foi a grande criadora das fantasias sexuais apelativas nas meninas e meninos, ao “sensualizar” excessivamente as suas paquitas. Xuxa foi a campeã de trejeitos, bocas, gestos, requebrados, reboladas, rebaixadas e decotes nos seus programas “infantis”. Agora, a loura Rainha “coroa” a sua obra, querendo sugerir ao mundo que é uma pessoa “melhor” ou “iluminada”, por ter sido assediada, sexualmente transgredida e violentada, e mesmo assim, ter permanecido calada.
Não sei se Xuxa foi realmente violentada, mas entendo que ela violenta, muito, e há muito. Mas de de fato foi, a notória erotização da infância protagonizada e capitaneada por ela e o consequente estímulo a atos de exploração sexual infantil que poderiam advir dessa propagação na maior emissora de televisão nacional, teria sido uma psicótica, maquiavélica ou inconsciente vingança? Geralmente, os traumas provocados por atos libidonosos presenciados ou sofridos na infância tendem a fazer uma pessoa normal abominar e coibir eventos similares, mas tratando-se de Xuxa e sua sede febril de valores materiais, tudo é possível.
A única verdade que observei na entrevista dela, foi confessar que Pelé, ao conhecê-la, preferia a Luiza Brunet. Mesmo sem ser rei, até eu prefiro a Luiza. Não precisa nem ser a Brunet. Pode ser até aquela que está no Canadá.”
Engana-se quem pensa que a imprensa virtual ficou a favor. Mauricio Stycer, crítico do Uol, disse:
O depoimento de Xuxa, creio, faz pensar basicamente sobre Xuxa. Transforma todos os espectadores em psicólogos de botequim. Somos obrigados, de uma hora para outra, a voltar a especular sobre a vida e a carreira da “rainha dos baixinhos” e sobre o seu comportamento em diferentes situações. O que é muito triste, enfim.”
Nina Lemos, crítica do Estadão, puxou de leve o tapete da moça, dizendo que ela foi vítima do sensacionalismo do “Fantástico”, porém, frisou:
“Ela sempre usou a mídia como divã. E ela não é a única. Muitas celebridades usam, sim, a imprensa, a TV, para tentar se resolver. Não sou capaz de dizer por que uma pessoa faz isso. Mas sou capaz de entender que a culpa não é só dela.”
E não parou por aí. A hashtag “Xuxa” era um verdadeiro apedrejamento. Sinal que ninguém suporta mais o sensacionalismo Global, muito menos Xuxa mas assiste ( eu mesmo passei a assistir quando percebi a indignação alheia via Twitter, ou seja, me incluo nessa).
Porém, a crítica que eu achei mais interessante foi a da ancora do Jornal do SBT, Raquel Sheherazade. Ela reclamou dos “ataques dos internautas” e disse que “Xuxa não precisa se promover” ( uma pessoa que trabalha com televisão e tem baixas audiências no seu programa aos sábados, na Globo e perdendo até para o Raul Gil, realmente, não precisa se promover, imagina). Mas o pior não foi isso! O pior foi ela termina com Clarice Lispector  dizendo que “não importa se você faça certo ou errado, as pessoas sempre irão achar um motivo para te criticar.” Muito contraditório vindo de uma jornalista que usou como degrau na carreira um vídeo que viralizou no YouTube criticando o carnaval. O que nos leva a primeira frase do texto! É como se eu e você não pudéssemos criticar nada, nem o sensacionalismo do “Fantástico”, nem a falsidade inegável da Xuxa, nem o apelo à emoção e o falso pretexto de que isso foi feito para “ajudar as crianças que sofreram abusos sexuais”. Nós não podemos criticar! Quem são os internautas para criticarem?! Apenas os jornalistas podem, não é Raquel?
Por fim, fico feliz em saber que as pessoas estão mais conscientes do que imaginava. Pensei que a maioria iria cair no golpe do “extremo sentimental” , todavia acabei observando uma grande revolta por parte do público. É um ótimo sinal! Mostra que o brasileiro já está mais atento e consciente em relação a manipulação da mídia que tem fome de audiência. Espero que não seja um caso isolado e que essa “evolução ideológica” esteja mesmo ocorrendo.
E você, leitor, qual o seu comentário sobre isso?