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19 de mai. de 2012

Tentando a minha própria distorção temporal



Ontem antes de ir dormir eu acabei postando aquele vídeo da distorção temporal e enquanto tomava banho para deitar, acabei me sentindo compelido a tentar fazer o treco. Sem muitas esperanças, juntei os bagulhos. A câmera estava ao alcance da mão, com bateria, com lente clara, tripé… Fui até a varanda e vi que a noite estava adequada, sem muitas nuvens e com boas estrelas, apesar de que no condomínio onde eu moro nego colocou umas luzes alaranjadas potentes pra dedéu que ficam acesas até raiar o dia, e é muita luz. Aqui tá foda! De dia o sol vem de cima. Agora, de noite, o sol vem de baixo.

Isso atrapalhou legal. Outra coisa que eu não podia prever é um repentino aparecimento da lua. Eu não tinha nenhuma dica nem carta celeste para prever o que iria aparecer. Aqui está no que deu:

O resultado do meu primeiro time lapse, de míseros 12 segundos, ficou meia-boca, mas me ajudou a compreender melhor algumas coisas, que implementarei no meu próximo teste dessa técnica.
Como é feita a parada:

Você tem que ter uma câmera que possa configurar a abertura do diafragma para o máximo possível. geralmente só dá pra fazer isso legal nas maquinas “reflex” de espelho. No caso, a minha é uma DSLR Canon 3Ti. Eu usei uma lente clara de 50mm e este foi um dos meus erros.
Não pela lente clara, mas por ser 50mm. Em termos didaticamente leigos: Em geral, as lentes funciona assim, quanto maior o valor em milímetros, mais “de zoom” a lente é. Assim, uma de 200mm vai ter mais “zoom” que uma de 50mm, que por sua vez tem mais “zoom” que uma de 12mm. Se fosse só isso tava bom, mas ainda entra aí a questão da claridade da lente. Algumas lentes deixam passar mais luz que outras. A regra é fácil, quanto mais luz passa, melhor é. E infelizmente, mais cara a lente também. Há outros fatores que aumentam os preços das lentes, mas que pra este caso, acho que não vão afetar muito o resultado, como estabilizadores óticos e focagem rápida… Não para fotos de estrelas.
No caso da filmagem das estrelas, a logica é inversa a da filmagem da lua. Na da lua, eu quero usar o máximo de zoom que eu puder, então, usei uma lente telescópica de 500mm.

lua2 Tentando a minha própria distorção temporal
Já nas estrelas, a ideia não é mostrar só uma no meio da tela preta mas sim um pancadão delas, e é por isso que o ideal é usar uma lente grande-angular, ou seja, uma lente que pega muita coisa e bota no quadro. Seria mais ou menos um tipo de “lente anti-zoom”.
O que ficou claro no meu teste é que é fundamental um tripé firme, um cartão de grande capacidade, porque a sequencia é captada TODA em formato RAW, que come muito espaço e baterias! Bateria é uma coisa fundamental, porque o contínuo bater de fotos, acesso e gravação no cartão, mais o visor lcd ligado direto consomem muito. Solucionei isso com o grip vertical, que permite enfiar duas baterias na maquina de uma vez só. Assim, já dá o dobro da performance.
Outro problema é que para fazer um bom timelapse como aqueles inigualáveis lá (os caras são profissa e vendem os videos deles até pro Discovery.) do último post é que precisa de um lugar escuro como um BREU. Sabe quele lugar tão escuro que dá medo? Pois é. O ideal é assim. Não dá pra ser no meio da cidade que é onde eu moro, porque o brilho da luz da cidade afeta o resultado final, a menos que role um daqueles apagões épicos.
A escolha do dia, aliás, da noite, me parece de suma importância, já que em dias nebulosos, não vai pegar legal muitas estrelas. O bom é quele dia típico de maio, que dá aquele céu azulão, sem nenhuma nuvem, e de preferência com lua nova. Aí fica style o bagulho.

Fazer o timelapse em si é uma coisa facílima. Ou você usa um intervalômetro ou instala o magic lantern (vale a pena!) e soluciona isso “na faixa”. Basicamente é uma setagem que diz para a maquina que você quer que ela comece a bater fotos feito louca, de X em X tempo. Aperta o disparo e ela começa. E é lindo quando as coisas simplesmente funcionam.
Mas como tudo na vida, já deu pra perceber que o buraco é mais em baixo. Eu tava la todo pimpão tentando fazer o meu primeiro timelapse da vida, em ignorei algumas coisas simples, que servem não só para o timelapse, como para fotografia espacial em geral:

  • Pegue a distancia focal da lente e divida 600 por ela. Vai dar um valor. Este valor é o tempo de exposição ideal para esta lente. Assim, se sua lente é como a minha, 50mm, então 600:50 =12 segundos de exposição.
  • Outra coisa é que como a lente é clara, 1:1,8 então isso quer dizer que ela poderia ficar mais “aberta” a entrada de luz, o que podemos compensar, reduzindo o ISO. Isso é fundamental, porque com quanto menor o ISO, mais nítida a imagem ficará e com menos tendência ao granulado. Mas tem que balancear, porque o ISO mais alto também ajuda a captar estrelas que só vão aparecer (como magica) na sua foto depois.
  • Mais um macete, é desligar o IS. O IS é a estabilização de imagem da lente. Parece bizarro? E é mesmo bizarro imaginar que a lente vai fazer uma imagem mais nítida no tripé se o IS estiver desligado. Estranho pensar que desligando a estabilização a imagem fica mais nítida…
  • Se grana não for problema na sua vida como é na minha, o ideal é pegar uma maquina full frame para fazer isso, já que uma Canon T3i tipo a minha, tem um sensor CCD menor, e portanto, capta menos área. Obviamente que isso é contornável se você usar uma lente grande angular que compense essa diferença (claro que não estou dizendo que é a mesma coisa, mas financeiramente, se você não pode partir de cara para uma 5D, é uma solução coerente).
  • O lance funciona assim: Se você deixa entrar mais luz, a maquina pode ficar captando menos tempo. Senão, entra luz demais e estraga a foto. Dessa forma, se sua lente é mais “escura”, deixando passar menos luz, você precisa deixar a entrada de luz na sua maquina aberta por mais tempo. Só que se você fizer isso demais, o céu vai ficar riscado, já que o deslocamento do planeta pelo espaço fará cada estrela gerar um risquinho na foto. Nem sempre é ruim e pode ser este seu objetivo. Saca só:481126091 b751463fd6 Tentando a minha própria distorção temporal
  • O ponto referencial – sempre que for fazer um timelapse do espaço, lembre-se de colocar uma casinha, ua pedra, uma planta, uma arvore, ou qualquer coisa que seja, desde que fique imovel, e seja reconhecível. Isso é importante para “situar” o cérebro do observador, senão ele pode pensar que a cena foi feita de uma nave espacial ou de uma luneta.
  • Uma dica importante diz respeito a velocidade do giro do nosso planeta. Se você der a bobeira de setar um intervalo de registro muito grande, terá problemas de flickering no movimento das estrelas. Este foi meu principal erro (pelo menos que eu consigo notar no meu atual estagio de conhecimento semi-nulo de fotografia) já que a Terra gira RAPIDAÇO! Não parece, mas a câmera consegue ver isso melhor que nós dois. O time-lapse dos gringos malucos parece que tem um tempo baixo entre cada batida, e com isso, eles registram a estrela bem perto do mesmo ponto entre cada frame do video. Desse jeito, o arranjo faz com que o movimento de deslocamento dos astros do firmamento seja mais suave e lindo. Fazendo isso, o video dura mais também e registra objetos que passam rápido como aviões e satélites de forma mais bela e nítida.
A parte mais complicada pra mim foi pegar um monte de foto preta e fazer aparecer as estrelas no photoshop. A imagem RAW tem a vantagem de te dar a imagem integral, deixando que você possa usar os controles depois que bateu a foto e não antes. Parece meio magico e confesso que pra mim ainda é um pouco. Com apenas alguns ajustes já brota um pancadão de estrela que estava lá o tempo todo e eu não conseguia ver. Mas a imagem Raw tem muitas manhas, muitos controles, e esta é a parte mais difícil porque não sei o que os gringos fazem para aparecer esse STAR TREK no céu. Nessa parte, se alguém aí souber algum macete, dica, truque, macumba de photoshop… O que vier eu traço e agradeço.
Com o adobe bridge dá pra criar um ajuste padrão baseado numa foto RAW e aplicar todos aqueles controles e presets em todas as trocentas mil imagens de uma vez.
Dica: Demora séculos! Vá ao cinema.

No fim das contas, você vai mandar gerar copias das imagens RAW já ajustadas no formato TIFF com compressão LZW. Pra fazer a joça virar um filminho, é fácil. Pegue o quicktime player de guerra e mande abrir “sequencia de imagem”. (tem que ser versão pro) Escolha as imagens Tiff na pasta e mande abrir. Quando ele abrir, você manda exportar como filme do quicktime. Aí ele pergunta qual a taxa de frames do filme. Basicamente, é o seguinte: Televisão é 30. Cinema é 24 e stop motion eventualmente chega a ser 15. Eu escolhi 24, e confesso que chutei. Talvez se tivesse jogado 30, isso poderia ter reduzido o flickering do meu video. Mas não tenho certeza disso. O que eu sei é que mandou gerar o filminho a partir das fotos, pronto. Espere um cacetão de tempo e tchã! Virou um filme.
A imagem resultante será gigantesca, já que pelo menos a minha maquina só faz o raw em imagens enormes, mas isso pode ser útil, já que sem dindim para comprar uma grua eletrônica ou um tripé de motion control, eu estimo que seja possível controlar o deslocamento de um video enorme sobre o stage de video, usando um combustion ou premiére. Assim, seu video pode ser deslocado horizontalmente, adicionando uma sensação sutil de pan e /ou dolly, que não existia quando você registrou as estrelas. Claro não é a mesma coisa, mas o custo de fazer isso é zero reais!
Eu pensei em adaptar um velho toca-discos, acoplando um “braço” metálico com uma cabeça de tripé nele e assim ir controlando o giro dele com um dimmer. Fazendo isso, talvez seja possível obter um deslocamento sutil e belo como o motion control daqueles caras. Mas aí já é papo para o McGyver!

Estou aberto a macetes e dicas. Eu não sou fotógrafo, então se eu tiver falado uma solene merda aqui, já peço perdão antecipadamente.

Distorção Temporal

Babe neste vídeo (veja em full screen!)




Temporal Distortion from Randy Halverson on Vimeo.

Ah, como eu queria conseguir fazer 10% do que este cara fez.